Sérgio Britto: A trajetória de um ícone do rock nacional e sua busca constante por inovação

Sérgio Britto é muito mais que uma voz marcante da música brasileira; ele é parte da história viva do rock nacional, especialmente por sua contribuição aos Titãs, uma das bandas mais influentes do país. Recentemente, Sérgio participou do IS WE Podcast, onde compartilhou histórias da carreira, reflexões sobre o cenário musical atual e revelou detalhes de sua trajetória desde a infância até sua carreira solo. Neste post, vamos contar com riqueza de detalhes esses momentos e explorar a caminhada de um artista que não para de se reinventar.

Infância entre artes, música e exílio

Sérgio Britto cresceu entre Brasil e o exílio político, uma fase determinante para sua formação pessoal e artística. Filho de um ministro do Trabalho no governo João Goulart, sua família foi exilada após o golpe militar de 1964. Só aos 14 anos Sérgio voltou a morar no Brasil. Durante os anos fora do país, seu foco inicial não era a música, mas a pintura. Ele chegou até a cursar faculdade de artes plásticas, alimentando uma paixão inicial pelas artes visuais.

Dentro de casa, a música estava presente em dois polos distintos: o pai era entusiasta da música clássica, com nomes como Beethoven e Chopin sempre presentes no ambiente. Já a irmã trazia o mundo da música popular, principalmente latino-americana, com artistas como a chilena Violeta Parra. Assim, desde cedo Sérgio conviveu com o clássico e o popular, enriquecendo sua formação musical.

Foi somente após o retorno ao Brasil que o caminho para a música ficou mais claro. A irmã começou a ter aulas de violão e Sérgio se interessou naturalmente pelo instrumento e, depois, pelo piano, que passou a ser seu primeiro de estudo sério. Ele contou que a paixão pela composição foi o divisor de águas: começar a criar suas próprias canções virou um vício e a verdadeira faísca para seguir a música como profissão.

Mesmo longe do país, a casa da família Britto era palco frequente de canções brasileiras. Os exilados mantinham vivo o saudosismo da MPB com discos de Caetano, Chico Buarque, Elis Regina e outros, além da influência clássica do pai, que fazia questão de ouvir os grandes compositores românticos. Essa mistura de sons plurais formou a base da identidade musical de Sérgio.

A formação dos Titãs e os primeiros passos no rock

A história dos Titãs começou ainda na escola, quando um grupo de amigos com interesse em compor e criar música se juntou. Sérgio estudava no mesmo colégio que Nando Reis, Arnaldo Antunes, Paulo Miklos e Branco Mello. Ali surgiu uma turma dedicada a compor canções, diferenciando-se daqueles que focavam mais na habilidade instrumental tradicional.

O primeiro show do grupo não foi algo grandioso, nem sequer uma banda formada. Eles tocaram na Biblioteca Mário de Andrade, onde apresentaram canções individuais e fizeram uma paródia em formato de banda chamada “Titãs do Iê-Iê-Iê”, ao estilo das bandas de iê-iê-iê da época. A brincadeira agradou tanto que pensaram em construir uma carreira a partir daí.

O primeiro sucesso veio com “Sonífera Ilha”, que rapidamente virou hit e foi executada repetidamente nos shows da banda, às vezes até três vezes na mesma apresentação, tamanha era a demanda pela música. Os shows eram curtos e aconteciam em espaços variados, desde buracos em São Paulo até o renomado Circo Voador no Rio. No entanto, o caminho não foi fácil. A banda foi vaiada na estreia carioca, enfrentando resistência do público local. Eles viajaram de trem e foram construindo uma resistência aos poucos.

A chegada de bandas como Blitz abriu espaço para o rock nacional crescer no Brasil, permitindo que os Titãs e outros grupos alcançassem maior visibilidade. Mesmo com tudo isso, o que os unia era a amizade e o desejo de fazer música juntos, sem pretensão de montar uma orquestra ou algo muito sofisticado. Com sete integrantes, a banda misturava rock, pop e algumas influências da MPB. Sérgio, embora usasse piano e violão, enfatizava que sua principal função era a composição, usando os instrumentos como ferramentas para criar suas canções.

Carreira solo: experimentação e colaborações

Além da intensa trajetória com os Titãs, Sérgio Britto investe há anos em uma carreira solo. Seu mais recente disco, Mango Dragon Fruit, lançado pouco antes da entrevista, simboliza essa fase de experimentação e mistura de estilos. O nome vem de um drink da Starbucks que mistura manga com pitaia (fruta do dragão). Sérgio faz uma analogia com o fruto proibido e a descoberta da sexualidade, indicando a carga simbólica e lúdica do trabalho.

No álbum, que traz uma influência clara da bossa nova misturada com pop, jazz e elementos contemporâneos, Sérgio conta com participações especiais de peso, como:

  • Ed Motta
  • Fernanda Takai
  • Supla
  • João Suplicy
  • Roberto Menescal
  • Bebel Gilberto

Entre as 12 músicas do disco, nove foram compostas por Sérgio e três são canções tradicionais ou de outros autores, regravadas ao seu estilo. Nos shows, ele equilibrava seu repertório entre essas músicas novas e versões adaptadas dos clássicos dos Titãs, oferecendo um show “cool” e diversificado, para atender tanto aos fãs antigos quanto a um público mais jovem.

Sérgio planeja lançar esse disco também em vinil no segundo semestre, reconhecendo a força desse formato para fãs e colecionadores. Ele destacou como o vinil é mais que um objeto para ouvir música; funciona também como peça de arte e decoração, um elo físico com as histórias contadas na música.

Em sua trajetória solo, Sérgio não se prende a um estilo fixo. Ele mistura referências de bossa nova com pop, jazz e até elementos eletrônicos, sempre buscando uma identidade própria e uma sonoridade única. Está aberto a experimentar, sair da zona de conforto e criar algo novo, o que para ele é essencial no processo artístico.

Histórias dos bastidores: desafios e bom humor

A carreira artística de Sérgio Britto não foi só sucesso instantâneo — teve episódios engraçados, perrengues e desafios típicos do universo da música.

Durante os primeiros anos da banda, para conseguir aparecer no programa do Chacrinha, eles precisavam fazer o chamado “jabá”: apresentações de playback na Baixada Fluminense. Em uma dessas ocasiões, a banda acabou dividida em dois carros, e uma das turmas chegou sem nenhum cantor. Sem opção, os integrantes fingiram cantar e dois deles precisaram improvisar no palco, o que fez o público se irritar, gerando vaias e até ataques de objetos. Para salvar a situação, o empresário da banda, Billy Bond, subiu ao palco e jogou dinheiro na plateia para dispersá-los, criando cenas inusitadas que salvaram o grupo do vexame.

Mais tarde, nos anos 90, Sérgio também participou de um projeto paralelo chamado Clederman, uma banda punk formada durante um hiato dos Titãs. O objetivo era diversão, sem compromisso com sucesso comercial. Sérgio tocava guitarra, Branco o baixo, e a bateria era comandada por uma baterista talentosa, mas a banda durou pouco tempo.

No dia a dia fora dos palcos, Sérgio tem hobbies que o ajudam a relaxar. Ele gosta de ler, assistir filmes e praticar esportes, mas seu principal lazer continua sendo tocar piano, compor músicas e mergulhar no processo criativo.

Opiniões sobre música, sociedade e tecnologia

Durante o podcast, Sérgio comentou sobre a chamada “lei Uruan”, que tramita na Câmara e propõe a vedação do uso de recursos públicos em músicas que façam apologia ao crime, drogas e sexualidade. Ele vê o tema como complexo e perigoso para a liberdade de expressão no campo artístico. Sérgio destacou a dificuldade de definir o que pode ser considerado apologia e que a censura indireta pode restringir a criatividade sem um critério claro.

O músico ressaltou que a internet expõe todo tipo de conteúdo e, por isso, tentar controlar o acesso pode ser ineficaz. Além disso, ele sugeriu que decisões assim deveriam ser feitas por plebiscitos públicos, dando voz à sociedade.

Sobre inteligência artificial (IA), Sérgio entende que ela transformará profundamente a música e outras profissões. Ele acredita que resistir a essa mudança é uma atitude arrogante, já que a tecnologia evolui rapidamente. Ele se divertiu quando Guilherme citou que espera que “John Connor” (personagem que salva a humanidade em Exterminador do Futuro) já esteja por aí, para evitar um apocalipse tecnológico.

Apesar dos desafios, enxerga a IA como uma ferramenta que pode ser útil para ampliar a criação, mas sempre com atenção para os limites éticos e humanos.

Para os fãs: onde ouvir e o que vem por aí

O disco Mango Dragon Fruit está disponível em todas as maiores plataformas digitais, como Spotify, Apple Music, Amazon Music, Deezer e YouTube. Para colecionadores e amantes do físico, o lançamento em vinil está planejado para o segundo semestre do ano, trazendo uma nova experiência para quem acompanha Sérgio.

A agenda de shows solo inclui apresentações em alguns espaços importantes, como o Sesc Bom Retiro, Guarulhos e Mogi das Cruzes. Além disso, Sérgio continua com a carreira nos Titãs, ao lado de Branco e Tony Bellotto, mantendo uma agenda regular de shows e turnês, além de encontros pontuais com ex-membros da banda.

Para acompanhar todas as novidades, vale seguir Sérgio em suas redes sociais oficiais, onde ele compartilha lançamentos, datas e bastidores de sua música.

O anti-coach que dá um conselho valioso

No final do bate-papo, Sérgio trouxe uma mensagem descontraída e realista para quem busca inspiração. Ele confessou não gostar do papo tradicional de coach e rejeita conselhos genéricos e repetitivos.

Seu recado foi simples e direto: tenha confiança no que você pensa e sente; não se deixe levar por conselhos vazios ou superficiais. Escute sua voz interior, vá fundo no que você gosta e tem paixão. Esse é o verdadeiro caminho para qualquer artista ou pessoa que deseja seguir seu próprio rumo.

A conversa com Sérgio Britto trouxe uma mistura de história, bom humor, sinceridade e uma visão atualizada sobre os desafios e prazeres da carreira musical. É gratificante ver um artista que, mesmo com décadas de sucesso, não perde o desejo de aprender, experimentar e se reinventar.

Para quem quiser ouvir essa entrevista completa, que é um presente para fãs de música brasileira e rock nacional, vale conferir o episódio do IS WE Podcast.

Acompanhe também o trabalho solo de Sérgio e a trajetória dos Titãs, que continuam firmes e fazendo parte da cena cultural.

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