Egypcio no IS WE Podcast: Do Tihuana aos Bastidores com o Tributo ao Legião Urbana

A história de Egypcio, vocalista da banda Tihuana e líder do projeto Cali, é um retrato vivo da música brasileira. Desde os primeiros passos da infância até os palcos mais importantes do país, ele compartilha sua trajetória com histórias sinceras e um olhar verdadeiro. Nesta conversa com os apresentadores do IS WE Podcast, ele abre o coração e conta como a música sempre esteve presente em sua vida, as aventuras com a banda Tihuana, os desafios de criar projetos paralelos e a emoção da turnê comemorativa de 25 anos.

A Origem do Egypcio: Começando com a Música

Adriano Grande, conhecido como Egypcio, carrega no nome a raiz do apelido: seu pai é egípcio, nascido no Cairo, o que lhe conferiu o nome marcante. Embora seus pais não fossem músicos, a música esteve presente em sua casa desde cedo, com gostos variados que iam de Billie Holiday a Roberto Carlos. Foi mesmo através da vontade e da paixão que nasceu seu primeiro contato forte com o rock.

Tudo começou quando, ainda com nove anos, ele visitou o quarto do irmão mais velho de um amigo e se deparou com uma bateria, guitarras e pôsteres de bandas como Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple. O impacto foi imediato. O álbum clássico Led Zeppelin IV, com a icônica “Stairway to Heaven”, o marcou para toda a vida. Foi o som que ele quis seguir para sempre.

Naquela época, no Brasil dos anos 70 e 80, era difícil encontrar instrumentos para tocar em casa. Importar equipamentos ainda não era comum e o acesso a bandas estrangeiras era limitado a poucas opções na televisão. Programas como Som Pop, apresentado por Kid Vinil na TV Cultura, e espaços no Fantástico exibiam os videoclipes nacionais e internacionais, mas tudo era raro e valioso. Além disso, rádios como a Fluminense e produtores pioneiros da época ajudavam a manter viva a chama do rock e de sons alternativos.

A primeira formação musical de Adriano veio tanto dessa mistura de sons clássicos quanto dos gostos dos pais, que escutavam Tim Maia, Elvis e Roberto Carlos, trazendo uma diversidade importante para sua construção sonora. O primeiro disco que ele pediu de presente foi um compacto de The Wall, do Pink Floyd, um pedido difícil de ser atendido numa época onde encontrar discos importados era uma verdadeira caça.

Apesar do amor pela música, Adriano também era uma criança ativa, que gostava de esportes nas horas vagas, praticando futebol, vôlei e handball na escola. No entanto, sua preferência nunca foi seguir uma carreira esportiva, mas sempre estar perto da música. Para ele, o presente ideal não eram os brinquedos comuns, mas sim discos e fitas-cassete, algo considerado incomum para a família e amigos, que, por muitas vezes, preferiam comprar brinquedos.

Primeiros Passos na Música: De Improvisos à Cena Paulista

Quando o amor pela música começou a crescer, Adriano não apenas sonhava em ser músico, mas tomou iniciativas para realizar esse sonho ainda na escola. Participou de peças teatrais e musicais, chamando amigos para formar uma banda e até improvisou um baixo de papelão, inspirado por clássicos do rock da época, como Creatures of the Night, do KISS.

Seu primeiro contato com instrumentos de verdade veio quando começou a trabalhar como office boy, por volta dos 14 anos, na indústria farmacêutica Fontoura. Com o apoio do tio, a turma comprou instrumentos, entre eles uma bateria Pinguim para o primo. Já com alguma noção da bateria, aprendida na igreja católica, Adriano passou a tocar baixo na banda, se virando sozinho e estudando na prática.

Por volta dos 17 anos, o grupo começou a se apresentar na noite do bairro do Bexiga, em São Paulo. O repertório era composto por covers nacionais muito conhecidos dos anos 80, incluindo Traço de União, Capital Inicial, Camisa de Vênus, Legião Urbana e Plebe Rude. Apesar da pouca estrutura e do pouco conhecimento técnico, eles se apresentavam gratuitamente, apenas para ganhar experiência e curtir o palco.

Naquele tempo, não havia tutoriais online nem escolas de música acessíveis como hoje. Quem se aventurava a tocar precisava ser autodidata e ter muita força de vontade para praticar. Essa falta de recursos tornava o aprendizado ainda mais árduo, mas também fortalecia o espírito e o compromisso com a música.

O Encontro com o Tihuana: A Banda que Mudou Tudo

O apelido Egypcio só surgiria depois, à medida que sua carreira crescia. Antes dele era só Adriano, apelidos esses que iam desde “italiano”, pela herança ítalo-egípcia do pai, até a consolidação do nome que hoje é sinônimo de rock no Brasil.

O encontro com os membros do Tihuana aconteceu durante uma feira de surf na Bienal do Ibirapuera, na época em que os integrantes viviam um período de transição, após a extinção da banda Os Theobaldo, que já havia lançado dois discos no Rio de Janeiro. Eles estavam morando em São Paulo por seis meses, todos dividindo um apartamento no bairro de Santa Cecília.

Egypcio participava de uma outra banda chamada K9, e foi durante essa feira que os caminhos se cruzaram. Após um contato informal, troca de telefones e encontros para um papo descontraído, o convite para colaborar com eles começou a ganhar forma. Inclusive fez um show com a formação antiga do Tihuana no interior paulista, em Bauru.

Nesse processo, o vocalista antigo, Johnny, saiu do grupo, e Egypcio assumiu os vocais, inicialmente dividindo as composições com os demais membros. A transição não foi simples, pois ele continuava na K9, mas logo a banda firmou com uma gravadora e a rotina mudou.

Sobre o nome “Tihuana”, ele veio numa conversa com o produtor Rick Bonadio, que já tinha trabalhado com outras bandas de rock nacional. O nome foi inspirado na cidade mexicana de Tijuana, um símbolo da latinidade e rebeldia, que combinava com o som da banda, carregado de influências latinas trazidas principalmente pelo baixista Roman, que ajudou a introduzir referências de bandas argentinas como Divididos. O produtor ainda consultou uma numeróloga para decidir a grafia exata do nome, optando pela versão com “h” para garantir sorte no lançamento do primeiro disco.

Essa mistura de rock com ritmos e temas latinos tornou o Tihuana um dos nomes mais originais dentro da cena musical do Brasil nos anos 90.

O Sucesso do Tihuana e a Era MTV

A banda assinou com a Virgin Records, com Rick Bonadio como coordenador artístico. Naquele momento, o contato com a MTV era fundamental para o sucesso, pois o canal era a principal vitrine para artistas nacionais e internacionais. O primeiro single lançado foi “Praia Nudista”, lançado antes mesmo do disco completo, estratégia ousada que acabou funcionando muito bem.

Uma das histórias mais curiosas desta época envolveu uma mulher no Rio de Janeiro que foi presa na praia de Copacabana por tirar a parte de cima do biquíni. O incidente virou notícia e ajudou a impulsionar o single, que entrou até no programa Fantástico, levando o Tihuana a um público maior.

O maior sucesso da época foi “Pula”, uma música que conquistou todas as idades, com sua letra divertida e refrão marcante. Logo depois, veio “Tropa de Elite”. A canção, frequentemente mal interpretada, não fala de polícia nem tem ligação direta com o filme homônimo de 2007, lançado anos após a composição da música. Na verdade, a letra conta histórias de jovens indo para a balada, solteiros e querendo curtir a noite.

“Tropa de Elite” não é uma canção militar, mas sim uma canção de pegação, sobre encontro na balada, festas e diversão.

Ainda do primeiro disco, “Euvi Gnomos” atrai fãs que amam ou odeiam essa faixa diferente, uma colaboração com amigos e compositores ligados à cena musical alternativa brasileira, e que ganhou vida em festivais importantes.

O Estilo Musical: Uma Estranha Mistura que Funciona

O Tihuana sempre foi uma banda difícil de classificar em um único estilo. O rock era a base, claro, mas eles se destacaram por incorporar ritmos latinos, surf music, skate, ska e funk de morro, criando um som regional e ao mesmo tempo universal.

Diversas origens culturais dos membros contribuíram para essa diversidade: um argentino, dois cariocas, um baiano e um paulistano formaram a mistura. A versão de “Queves”, originalmente do Divididos, ajuda a entender as referências e como o grupo abraçava essa pluralidade sonora.

Essa diversidade foi essencial para o sucesso e inovação da banda, que se destacou numa época em que poucos grupos misturavam ritmos tão diferentes. Para eles, ter um diferencial é o que vale para conquistar um público fiel.

Entre os gêneros que o Tihuana incorporou estão:

  • Rock nacional e internacional
  • Ritmos latinos
  • Ska e surf music
  • Funk de morro
  • Influências argentinas

O Hiato e os Projetos Paralelos do Egypcio

Em 2017, após quase duas décadas de carreira ininterrupta, o Tihuana entrou em um hiato. A mudança veio do desgaste natural da vida na estrada e o desejo de focar em outras coisas, como família e novos projetos.

Egypcio dedicou-se a vários trabalhos longe do Tihuana, incluindo uma turnê tributo para a Legião Urbana com a banda Urbana Legion. Essa experiência durou cerca de dois anos, rodando o Brasil e prestando homenagem ao legado de Renato Russo.

Outra frente importante foi sua banda autoral, o Cali, que mistura surf music, skate e influências da Califórnia. O projeto nasceu de composições feitas durante o hiato do Tihuana e ganhou forma com músicos talentosos como Léo Rota (guitarra), Graveto (bateria) e Lena Papini (baixo). O Cali já tem dois discos lançados e trabalha no terceiro, trazendo um som fresco e diferente.

Nos bastidores, Roman se envolveu com comunicação, trabalhando em rádios e canais esportivos, ampliando sua atuação fora dos palcos.

A reaproximação do Tihuana começou aos poucos, com encontros em aniversários e eventos, até que Léo, que morava na Itália, foi convencido a voltar para juntos planejarem a turnê de 25 anos da banda.

A Turnê de 25 Anos: Tecnologia e Nostalgia

Para comemorar, o Tihuana preparou uma turnê especial, comemorativa e de despedida, com a formação original completa. O show ganhou novos arranjos, incluindo um trio de metais que trouxe sofisticação e peso ao som.

Outro destaque ficou por conta da tecnologia aplicada, com painéis gráficos em tempo real usando inteligência artificial e elementos 3D que interagem com a banda no palco, criando uma experiência visual imersiva para o público.

Essa novidade foi criada em parceria com a Mold Creative, empresa especializada em conteúdo audiovisual, que trouxe para o rock essa inovação tecnológica, mais comum em gêneros de maior investimento no Brasil. A reação do público foi incrível, elogiando o cuidado e a inovação da produção.

O uso dessas tecnologias faz o show ser mais do que um concerto: é um espetáculo que envolve música, imagem e emoção em uma experiência única.

Hoje, a agenda da turnê conta com mais de 25 datas confirmadas pelo Brasil, e os fãs têm a chance de reviver grandes momentos e músicas que marcaram uma geração.

Conclusão

Egypcio revela que o que move um artista é a paixão verdadeira e a capacidade de se reinventar. Sua trajetória mostra que o caminho da música é feito de escolhas difíceis, momentos de luta, mas também de muitas conquistas e encontros.

Seja em sua longa história com o Tihuana, na homenagem à Legião Urbana ou no trabalho autoral do Cali, ele mantém a essência do rock e a vontade de explorar novos caminhos.

A turnê de 25 anos do Tihuana é uma celebração para quem cresceu com as canções da banda e para quem quer ver uma banda viva, inovadora e cheia de energia no palco. Com arranjos inéditos e tecnologia de ponta, esses shows mostram que o rock nacional continua forte e pronto para surpreender.

Para quem quer acompanhar essa jornada cheia de histórias, o canal IS WE TV traz esse bate-papo especial em seu podcast, onde Egypcio abre o jogo sobre sua vida, seu legado e o que ainda está por vir.

Não perca.

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